quinta-feira, janeiro 12, 2012

Do silêncio e das cores da vida de um vagabundo





Provocador! Recusou um carro no aniversário de 18, trancou a faculdade aos 21. Hoje, tem só um quarto antigo de motel para chamar de lar e um violão velho para fazer uns trocados. Em sua cidade natal, só o que sabem dele é o que contam os cartões postais. Errante! Não é que ele não se sinta parte de lugar algum... erro crasso relacionar a tal seu desconforto crônico! Muito o oposto é o mal que com constância lhe furta o sono e o põe alcunha de devaneador. Distrai-se, com cada leve ruído sussurrante da liberdade, ela o chama pelo nome e lhe incita as mais exuberantes fantasias sobre o real viver. E forte como a gravidade, ele precisa ir. Simples assim! Desde muito cedo, sente-se diferente, sempre sentiu tudo bem mais forte! E não é de espantar que se diga pertencedor de todos os lugares. Um ingênuo sonhador - diz o vulgo - pobre menino vagabundo! Ah, se soubessem eles, que  sem amarras o mundo todo pertence a ti, e, então, essas preocupações normais de tantas pessoas iguais minimizam-se a meras tolices insossas! Embora, admito, seria insincero não mencionar que vez ou outra a humorosa covardia o encontra desprevenido e leva consigo um ou outro sonho que ele segurava desatencioso e sem a habitual paixão. Noutro instante, porém, bem logo e na maior parte do tempo, tem um atrevimento obstinado que o arrasta ao desconhecido, aliado a um gosto doce e, quiça, especial por cada hoje. Em um novo horizonte  a cada sonolento amanhecer e, por companhia, apenas aquelas cordas gastas, dedilha algum silêncio e as cores da tardinha com maestria e suavidade; diz ser sempre tempo propício para uma canção. É um aprendiz; enamorado pelas palavras e mesmo sem perícia, deita sobre o papel alguns breves sopros de caos, que é a sua alma aventureira, que é a sua alma poetisa. Ora febril, ele transborda. Ora paciente, ele deixa! Deixa a areia morosa deslizar pela ampulheta do tempo; sete vezes ou sete vezes sete. O quanto for necessário. Espera por aqueles raros dias em que desperta e é só para ele que se pinta o sol e é só para ele que se sopra o vento. Nesses momentos insólitos, com inocente gentileza ele compartilha com o mundo as cores do seu sorriso e o pulso leve de alguns versos confusos concebidos em uma madrugada qualquer. E é só o que lhe basta! Porque, ele sabe não ser nada mais do que um simples contador de histórias, como todos são; já que bem no fim da estrada, nada resta além de marcas. Marcas que o tempo pacientemente desenha sobre cada um de nós; marcas que narram, mesmo que sutilmente, o que não tivemos tempo de contar.