segunda-feira, outubro 31, 2011

Deixe a areia morosa deslizar pela ampulheta do tempo...




Eu não sei dizer daqui a quantos outonos, mas chegará um dia, provavelmente em uma noite ociosa depois do jantar, em que você se verá sentando em uma antiga poltrona diante de uma xícara de chá intocada e um jornal folheado desatenciosamente. O hábito da situação, entretanto, estranhamente sussurrará uma lembrança há muito esquecida. Talvez a personagem dessa reminiscência esteja sentada na poltrona ao lado. Talvez ela esteja a um oceano de distância. Mas, onde quer que ela se encontre, por um breve instante seus sorrisos se unirão em um. Um sorriso cálido, saudoso. 
Uma recordação gostosa de toda essa confusão.



domingo, outubro 16, 2011

Desvanecendo



Dentro de poucos segundos, um velho pensamento se sobreporá ao caos que rotineiramente habita a sua mente. Uma frase devastadora. "E cada segundo em que eu apenas assisto a vida passar ligeira, eu poderia estar aproveitando com coisas que realmente julgo importantes." Quase ou um perfeito clichê. Olhando para o vazio, ela se sentirá sobre uma linha tênue entre o que ela vive e o que ela poderia estar vivendo. O futuro, então, povoará momentaneamente seus pensamentos e tudo que ela sonha acontecerá ao som de duas breves notas musicais. Em um abrir e fechar dos olhos ela decidirá correr atrás do que almeja, decidirá tirar as vontades do plano de idealizações e ir realizá-las. Esperem só; logo, logo, ela vai sorrir. Com os olhos e com a alma, também. Mas, quer saber? Não esperem demais, será um sorriso. Nada além disso. Meio saudoso, meio cheio de ânsia, é verdade. Mas, assim como seu pensamento, fatalmente reprimido. Talvez ela até já tenha se esquecido de toda aquela fantasia quando chegar em casa, assim como aconteceu aquelas outras tantas vezes. Provavelmente, aquela linha era mais irrompível do que tênue. Talvez aquele sorriso nunca mais aconteça. Não aquele. Quem sabe ela até chegue um dia a realizar seus sonhos, mas pode ser que não. Afinal, ela tem muitas outras coisas em que pensar. Tem muito com o que se preocupar e se ocupar. Todo aquele caos. Toda aquela rotina. Todas aquelas obrigações de uma desventurada e insatisfatória meia-vida.

quinta-feira, outubro 13, 2011

De que serve esse medo de ser feliz?

Cansei desse jogo de atitudes comedidas que só complicam ou tornam a nossa vida insossa. "Será que eu devo? Mas e se... Talvez assim eu acabe por parecer um tolo." Então, não aproveitamos as brechas, pelo contrário, apenas as preenchemos com mais uma boa dose de silêncio. Evitando possibilidades. Temendo a estupidez. Pra que dar a cara à tapa quando é tão cômodo deixar tudo como está? Além do mais, assim podemos nos orgulhar daquelas atitudes que não tomamos e daquelas palavras que não passaram de meros pensamentos não pronunciados. Ora, sempre sair quando se está "por cima", não? Bobagem. Pura insegurança! Continuamente, perdendo por ter medo de perder, por recear tropeçar nos próprios sentimentos e nas próprias vontades. É inaceitável parecer fraco. Aí, deixamos de nos expressar com sinceridade, nos escondemos atrás de uma falsa auto-suficiência. Fugimos de relacionamentos, afastamos pessoas. Ao invés de aceitarmos que o tropeço e a queda fazem parte, e que se quebrar, haverá um bilhão de maneiras de remodelar os cacos. Ao final das contas, de que serve esse medo de ser feliz? Não sei você, mas eu vou deixá-lo de lado! Decidi fazer por mim o que me faz melhor.



domingo, outubro 09, 2011

Após uma breve dose de sonolenta impassibilidade

A alguns passos do precipício, alguns poucos, não poderia ser tão difícil. Afinal, não haveria nada para lhe impedir. E depois de tudo, só restava indiferença e decepção. E ela foi, suas pernas protestando, insistindo em não sair do lugar. Lentamente... um, dois, três passos e ela já estava quase lá. Enfim, as pontas dos pés já não tocavam o solo, olhou para baixo antes de respirar fundo e voltar a cabeça e os braços para o alto.
O nada estava a sua espera. Repentinamente, porém, mãos tocaram seu braço e a puxaram de volta, despertando-a do longo pesadelo. Mãos que se importavam. Não estava só. Nada tinha sido mais do que um amargo mal entendido. Foram palavras temperamentais usadas da pior maneira e nos momentos mais inoportunos. Foram gestos mal interpretados e pensamentos que não se permitiram transformar em frases. Mas lá estava, claramente, a oportunidade de reformar tudo que havia sido deformado. E poderia ser a última. Então, lágrimas de alívio e ansiedade encheram-lhe os olhos e ela podê sentir. Podê sentir novamente. E finalmente.


sexta-feira, outubro 07, 2011

Não falo de sentimentos...

E eu que sempre achei ser tão natural, hoje não consigo traduzir qualquer coisa em gestos, quem dirá em palavras. Talvez, apenas não haja nada a ser dito. Talvez, seja a singela apatia se apoderando de mim, estranha e contraditória sensação de, simplesmente, não sentir absolutamente mais nada. Sobre nada.




quarta-feira, outubro 05, 2011

Nada além do que nos parece certo...


E a gente fica aqui, sem sair do chão, temendo ultrapassar a nossa limitada e patética zona de conforto. Ficamos aqui, em companhia do medo de cair e ser alvo de tripúdios. Então não ousamos voar. Não ousamos nem mesmo tentar. Apenas deixamos estar, inertes, meros personagens passivos de uma vida repleta de possibilidades. Sempre assim, a velha taça vazia em um mundo cheio de misturas. Apenas sujeitos sem história - cheios de desconfianças e receios e falhas e orgulhos tolos - que não se permitem, que nem ao menos vivem.