quinta-feira, dezembro 22, 2011

"E aqueles que foram vistos dançando...



E para os desafortunados, as sete contas do seu arco íris soam como ofensas. E o jeito curioso de ela dançar é afronta. Sua felicidade, agravo. E - por maldade ou ingenuidade - uma palavra solta, um duvidar ligeiro, faz quase seu sorriso virar embaraço. Ah, mas se o velho da venda fosse lhe dar um de seus sábios conselhos, talvez ele dissesse "deixe, que eles são mesmo uns bons tolos; perderias tu em paz de espírito por pura comoção?" E então o rosado quente que acanha a pele não se sobreporia ao seu real contentar. "Bobagem, deixe a distração lhe envolver os olhos e fique com o que lhe agrada por recordação, mal sabem eles o que vos passa em mente e o que eles veem nada mais é, senão feição." Aquietada a alma, o sorriso a triunfar,  olharia com pesar a curiosice mal empregada do mundo e, bem no fim, acabaria por conformar-se. Normal, fraqueza humana. Embora sua suscetibilidade gentil, é verdade, a fizesse pensar: uma pena, realmente uma pena. Ora, tantas histórias próprias esperando ser deitadas em um papel branco - novo como o dia presente - ou pronunciadas de lábios em lábios junto com o vento da tardinha. Tantos feitos singulares, mesmo que nem grandiosos, simples feitos que valeriam ser compartilhados. Ou se não há que valha; apenas cala-se. Perde-se oportunidade de encobrir a pequenez de espírito com o silêncio oportuno. Mas vá lá... Nem todos são velhos de venda sábios, honra para poucos; nem todos sabem que o tempo é curto e não nos cabe gastá-lo assim, vadiando, dissertando leviano modo... sobre meras tolices de vozes de outrem. Porque na verdade mesmo, só o que ela quer é contemplar as cores várias de seu arco-celeste e o gotejar macio da chuva que o precede, sem perturbações desnecessárias por seu sorriso bobo. Porque se ela tem motivos tão simplistas para ser feliz. Dos daltônicos ou cegos de alma, admite ter pena, mas mais do que isso, tem por eles respeito. E desses, meu caro, respeito pela sua maneira ímpar de ver o mundo é certamente o que ela mais anseia. Talvez, até porque, isso seja a única coisa que desses julga sensato ansiar. 


quarta-feira, dezembro 07, 2011

Sobre clichês, olhares e garrafas de Whisky





E era só uma saída rotineira de fim de tarde... E então, cinco segundos! Cinco malditos segundos que resultariam em uma garrafa de Whisky barato por companhia e alguns sorrisos esboçados embaraçosamente na madrugada. Na manhã seguinte ele se sentiria patético, é verdade, mas a manhã seguinte era dali a muito tempo. E, por enquanto, uma chamada daquele breve momento não cessava em seus delírios tolos. Soava tão clichê, tão bobo, mas isso não fazia ser menos perturbante. Aquele olhar tão curiosamente intenso. Não era como se ele o reconhecesse, não era nada nem mesmo próximo a isso. Era algo como... um tal entendimento entre almas, como se ele a tivesse convidado para sentar à mesa de uma lanchonete qualquer e eles tivessem acabado por virar a noite compartilhando histórias, memórias e sorrisos com uma música brega saindo das caixinhas de som empoeiradas e um cappuccino fumegante para acompanhar a conversa. Mas nada disso aconteceu, nenhuma palavra foi ouvida, quem dirá uma canção para chamar de "nossa", o que havia eram as buzinas habituais e e as vozes desconhecidas passando ligeiras. E, mesmo assim, naqueles segundos amanteigados de anoitecer tardio, era como se ele pudesse compreender cada gesto que porventura viesse dela e cada palavra que poderia ter sido pronunciada. E ele compreendeu, compreendeu suas maneiras, seu silêncio e até o motivo de ela usar aquele corte anos 80. Mas por muito tempo ele não saberia disso. É, dessa vez a sensibilidade poética dele havia exagerado na dose e logo ele se julgaria um estúpido por acreditar em desígnios. Ah, mas o humor tranquilo do tempo vem em boa hora... E quem era ele para duvidar, porque muitos anos depois, aqueles dois olhares voltariam a se cruzar e em meio a uma multidão de rostos indiferentes e olhares ignoráveis; aquela lembrança borrada de um passeio rotineiro faria com que outros tantos segundos, dessa vez, se fizessem décadas. 



quinta-feira, novembro 17, 2011

"Do muito e do pouco"



Ah! Como eu detesto esses sentimentos pobres que falseiam desejar intensidade. Essa tepidez monótona e acinzentada dos atos. Nem à terra, nem ao mar. Sou, sim, do muito ou do pouco. E é isso que eu admiro, é essa leveza dos espírito que se permitem, completamente, quando é mais fácil ser do que fingir estar. E do doce desafinar da voz cálida ao cantar, com quanta verdade, aquela nota perdida no meio da composição. Ah! Mas como eu amo isso de ler a vida contada em palavras que perturbam, que expressam. E a sensibilidade dos que respiram arte, qualquer que seja ela. É! Esses, sim, são os que mexem comigo, toda essa intensidade real; isso de pôr sobre a tela, sobre o papel ou em um dedilhar de cordas, uma ínfima parte do que povoa sua essência. Lendo emoções e reconhecendo almas... E quer saber? Também admiro! Admiro essa vivência confusa dos corações atrevidos, que liberam com audácia o que corações fracos insistem em esconder. Ou aquele voz que pacientemente cala, quando o grito de outras torna-se caótico. Vou do sentimentos intensos à indiferença total. Acho o meio-termo enfadonho. Gosto dos gritos que se sobrepõe e dos silêncios que exprimem, mas nunca do farfalhar medíocre dos discursos vazios. Entretanto, se estivermos falando sobre viver, ah, meu caro, aí eu tenho que ceder: viver, não sei para você, mas para mim nunca é muito ou pouco. É sempre pouco. E é por isso, que meu último pensamento, toda noite antes de adormecer, soa como uma pequena oração: amanhã eu quero mais!


segunda-feira, outubro 31, 2011

Deixe a areia morosa deslizar pela ampulheta do tempo...




Eu não sei dizer daqui a quantos outonos, mas chegará um dia, provavelmente em uma noite ociosa depois do jantar, em que você se verá sentando em uma antiga poltrona diante de uma xícara de chá intocada e um jornal folheado desatenciosamente. O hábito da situação, entretanto, estranhamente sussurrará uma lembrança há muito esquecida. Talvez a personagem dessa reminiscência esteja sentada na poltrona ao lado. Talvez ela esteja a um oceano de distância. Mas, onde quer que ela se encontre, por um breve instante seus sorrisos se unirão em um. Um sorriso cálido, saudoso. 
Uma recordação gostosa de toda essa confusão.



domingo, outubro 16, 2011

Desvanecendo



Dentro de poucos segundos, um velho pensamento se sobreporá ao caos que rotineiramente habita a sua mente. Uma frase devastadora. "E cada segundo em que eu apenas assisto a vida passar ligeira, eu poderia estar aproveitando com coisas que realmente julgo importantes." Quase ou um perfeito clichê. Olhando para o vazio, ela se sentirá sobre uma linha tênue entre o que ela vive e o que ela poderia estar vivendo. O futuro, então, povoará momentaneamente seus pensamentos e tudo que ela sonha acontecerá ao som de duas breves notas musicais. Em um abrir e fechar dos olhos ela decidirá correr atrás do que almeja, decidirá tirar as vontades do plano de idealizações e ir realizá-las. Esperem só; logo, logo, ela vai sorrir. Com os olhos e com a alma, também. Mas, quer saber? Não esperem demais, será um sorriso. Nada além disso. Meio saudoso, meio cheio de ânsia, é verdade. Mas, assim como seu pensamento, fatalmente reprimido. Talvez ela até já tenha se esquecido de toda aquela fantasia quando chegar em casa, assim como aconteceu aquelas outras tantas vezes. Provavelmente, aquela linha era mais irrompível do que tênue. Talvez aquele sorriso nunca mais aconteça. Não aquele. Quem sabe ela até chegue um dia a realizar seus sonhos, mas pode ser que não. Afinal, ela tem muitas outras coisas em que pensar. Tem muito com o que se preocupar e se ocupar. Todo aquele caos. Toda aquela rotina. Todas aquelas obrigações de uma desventurada e insatisfatória meia-vida.

quinta-feira, outubro 13, 2011

De que serve esse medo de ser feliz?

Cansei desse jogo de atitudes comedidas que só complicam ou tornam a nossa vida insossa. "Será que eu devo? Mas e se... Talvez assim eu acabe por parecer um tolo." Então, não aproveitamos as brechas, pelo contrário, apenas as preenchemos com mais uma boa dose de silêncio. Evitando possibilidades. Temendo a estupidez. Pra que dar a cara à tapa quando é tão cômodo deixar tudo como está? Além do mais, assim podemos nos orgulhar daquelas atitudes que não tomamos e daquelas palavras que não passaram de meros pensamentos não pronunciados. Ora, sempre sair quando se está "por cima", não? Bobagem. Pura insegurança! Continuamente, perdendo por ter medo de perder, por recear tropeçar nos próprios sentimentos e nas próprias vontades. É inaceitável parecer fraco. Aí, deixamos de nos expressar com sinceridade, nos escondemos atrás de uma falsa auto-suficiência. Fugimos de relacionamentos, afastamos pessoas. Ao invés de aceitarmos que o tropeço e a queda fazem parte, e que se quebrar, haverá um bilhão de maneiras de remodelar os cacos. Ao final das contas, de que serve esse medo de ser feliz? Não sei você, mas eu vou deixá-lo de lado! Decidi fazer por mim o que me faz melhor.



domingo, outubro 09, 2011

Após uma breve dose de sonolenta impassibilidade

A alguns passos do precipício, alguns poucos, não poderia ser tão difícil. Afinal, não haveria nada para lhe impedir. E depois de tudo, só restava indiferença e decepção. E ela foi, suas pernas protestando, insistindo em não sair do lugar. Lentamente... um, dois, três passos e ela já estava quase lá. Enfim, as pontas dos pés já não tocavam o solo, olhou para baixo antes de respirar fundo e voltar a cabeça e os braços para o alto.
O nada estava a sua espera. Repentinamente, porém, mãos tocaram seu braço e a puxaram de volta, despertando-a do longo pesadelo. Mãos que se importavam. Não estava só. Nada tinha sido mais do que um amargo mal entendido. Foram palavras temperamentais usadas da pior maneira e nos momentos mais inoportunos. Foram gestos mal interpretados e pensamentos que não se permitiram transformar em frases. Mas lá estava, claramente, a oportunidade de reformar tudo que havia sido deformado. E poderia ser a última. Então, lágrimas de alívio e ansiedade encheram-lhe os olhos e ela podê sentir. Podê sentir novamente. E finalmente.


sexta-feira, outubro 07, 2011

Não falo de sentimentos...

E eu que sempre achei ser tão natural, hoje não consigo traduzir qualquer coisa em gestos, quem dirá em palavras. Talvez, apenas não haja nada a ser dito. Talvez, seja a singela apatia se apoderando de mim, estranha e contraditória sensação de, simplesmente, não sentir absolutamente mais nada. Sobre nada.




quarta-feira, outubro 05, 2011

Nada além do que nos parece certo...


E a gente fica aqui, sem sair do chão, temendo ultrapassar a nossa limitada e patética zona de conforto. Ficamos aqui, em companhia do medo de cair e ser alvo de tripúdios. Então não ousamos voar. Não ousamos nem mesmo tentar. Apenas deixamos estar, inertes, meros personagens passivos de uma vida repleta de possibilidades. Sempre assim, a velha taça vazia em um mundo cheio de misturas. Apenas sujeitos sem história - cheios de desconfianças e receios e falhas e orgulhos tolos - que não se permitem, que nem ao menos vivem. 





terça-feira, maio 17, 2011

Sobre fotos, versos e vinhos





E pela terceira vez ela apertou o play. A mesma música soou, a mesma melodia doce e nostálgica.
A escuridão amanteigada da noite afagou-lhe a face, ela estava só.
Rasgou a fita que a mantinha protegida de todas aquelas recordações. Abriu a caixa.
O cheiro de passado envolveu-lhe, impiedosamente.
Então, ela se viu recolhendo aquelas cartas da caixinha de correio, dois anos antes. Admirando o traçado fino e esmerado com que ele assinava o envelope. Sentiu o papel entre os dedos e a resposta na ponta da língua. 
Depois, encontrou uma velha garrafa e lhe veio, quase que instantaneamente, a visão cálida deles dois dividindo o vinho e seu gosto inebriante, naquele dia dos namorados.
Num impulso, desatou o nó que reunia as cartas e começou a ler, uma a uma. Quanto daquelas palavras havia sido real? Ela se pegou perguntando. E se foi verdadeiro, quando é que começara a desmoronar?
Enquanto olhava as fotos e os presentes, lembrou-se, vagamente, do que ele lhe dissera enquanto enxugava suas lágrimas e dizia para ela não ter medo do futuro.
Decepção.
Enquanto refazia diálogos e revia cenas; enquanto desenterrava o passado e as velhas histórias, o isqueiro ao seu lado começou a lhe parecer atraente e os sorrisos fotografados, falsos demais. Apertou o stop e a música cessou.
Alívio.
Horas mais tarde ela se lembraria com pesar, mas não arrependimento, do CD quebrado. Aquela trilha sonora fizera parte deles dois, de tudo que eles foram e viveram juntos; as viagens, os jantares à luz de velas, enfim, sempre os bons momentos.
No entanto, nos últimos tempos, o saldo do relacionamento deles se fizera negativo. Os maus momentos haviam se sobreposto aos bons, inquestionavelmente.
Ao seu lado, a garrafa vazia virara mil pedaços, um fraco cheiro da bebida ainda persistia no vidro, ou talvez fosse só sua imaginação. Não importava.
 Pegou o isqueiro e a última carta que lera. O cheiro de papel queimado tornou-se intenso, bom. Cinco minutos depois, o fogo crepitava e uma pilha de lembranças se contorciam em meio a ele.
Calmaria.
Um sorriso no rosto, a cabeça girando, a cena a agradava, era quase doce.
Não muito tempo depois, se deu conta de que nenhum vestígio restara; fotos, cartas ou presentes. Sentiu, então, uma felicidade imensa a invadindo, gargalhou, pulou sobre a cama e fez pipoca para comemorar. 
Superação.
Pois é, ela subiu. Mas subiu alto demais. O tombo foi grande quando ela caiu. Caiu no chão duro e em si.
Choque.
Durante a queda, lenta e gradual, foi percebendo, amargamente, o que ela fizera. É verdade, ela havia, mesmo, destruído todas as evidências, sem exceção e corajosamente.
No entanto ela soube, ao tocar o chão, que ela nunca,
nunca, seria capaz de destruir as memórias.





sábado, abril 30, 2011

De um jovem, já não tão jovem assim





Ah! Eles vão dizer que fui insano. Vão lembrar de mim paquerando as mocinhas dos bailes. Vão gargalhar à custa das minhas histórias.
É, daqui muitos anos ainda se lembrarão das minhas presepadas. Presepadas de um jovem de 70 anos depois de uma noite em claro e três garrafas de whisky. Não, não. Eu não sou um bom exemplo se você estiver falando sobre um Jack Daniel's.
Sim, meus filhos sentirão minha falta. Eles até que tentarão alegrar os meus netos fazendo 5 ou 6 bolinhas de sabão seguidas como eu faço, mas, provavelmente, três já serão demais para eles. 
Ah! Eles vão levar as crianças para pescar como eu fazia. Elas pedirão por mim é claro, mas eles se sairão bem: erguerão as cabeças, apontarão no céu uma estrelinha sorridente e dirão que lá está o vovô.
É, essa é mesmo uma boa imagem. Crianças gostam do céu.
Bom, independente de onde eu vá parar, acho que vou sorrindo. Se você soubesse tudo que eu aprontei, fiz tudo que eu queria, meu jovem. E você deveria fazer o mesmo.
Algumas pessoas são assim, como eu, realmente sabem como viver.
Eu vivi e ainda vivo.
Talvez não por muito tempo, quem sabe, talvez eu não chegue nem ao próximo natal.
Mas, vou te dizer, 70 anos serviram para alguma coisa. Medo da morte? Faz-me rir.
Falando em morte... Não que você queira saber mas vá lá, eu sou um velho, acha que me importo se você quer ou não saber? Pois é, no meu velório, eles tomarão meu champagne favorito e farão isso ouvindo Hit the road Jack, nossa como eu amo essa música.
(E aquelas garotas! Que saudades dos 60's. Bons tempos, em?)
Tudo bem, tudo bem, eu não sou mais como eu era quando eu era jovem, jovem mesmo, sabe?
Na verdade, eu me sinto muito melhor.
Não, ninguém consegue tirar esse sorriso maroto de mim.
Um otimista, é isso que eu sou e é isso que pretendo ser até o fim.
(Não tão distante assim, pelo jeito)
Mas, o que estou, realmente, tentando dizer, é que me orgulho do que fui e do que sou.
Vou partir dessa para melhor, sem medo.
Fiz da minha vida o que quis. Fiz valer cada segundo, porque, ao contrário da maioria, eu soube aproveitar.
Nunca esperei para ser feliz.
Não esperei chegar à maioridade nem a licença para dirigir. Não esperei ser aceito na faculdade ou o fim da ditadura. Não esperei ter um casamento ou filhos. Não esperei o carro do ano ou a casa dos sonhos. Não esperei aquela viajem ou aquela visita.
Não esperei. Simples, assim
Fiz minha felicidade acontecer. Fiz a felicidade de outros. E, dane-se a modéstia, superei cada obstáculo majestosamente bem.
Se eu tenho conselhos? Claro que sim, como diz uma velha amiga:
"Faça por ti, o que te faz melhor."






Escrevendo vinho e bebendo versos





Eles vivem como querem.
Guardaram o diploma. Fizeram as malas.
Ela virou fotógrafa, ele toca em barzinhos.
Dane-se o mundo, a conta bancária e as roupas socias. Dane-se o casarão dos sonhos, o carro do ano e o status.
Já nem sabem ao certo em quantos lugares já moraram ou quantas vezes tiveram que se virar com mímica.
Ônibus, metrô ou bicicleta. Pensões ou hotéis baratos.
Não importa.
Eles já deitaram sobre a neve e desenharam anjos, mas também já queimaram no sol enquanto corriam pela praia.
Já andaram em gondôlas e em bondinhos.
parlaro italiano. Arriscaram um Bon voyage.
Já pularam de asa-delta, fizeram trilha e subiram morros.
Pegaram carona com estranhos. Dormiram de favor. Já quase foram deportados.
Nem tudo que fizeram foi sensato ou inteligente. Tiveram problemas, coisas deram errado.
Mas riram da situação e seguiram em frente.
O cartão postal é sagrado. Cada vez um novo lugar.
As famílias já desistiram de perguntar onde é que eles estarão amanhã.
Como se eles soubessem.
É só o tédio bater, a grana sobrar e lá vão eles de novo.
Recomeço.
Quanto tempo isso vai durar? Eles não fazem ideia.
Mas, quer saber?
O amanhã está longe demais para ser preocupante.





Poetizando o passado





Por que desejar tanto o passado, agir como se tudo tivesse sido perfeito?
Houveram bons momentos, sim, houveram. Outros nem tanto. Não faça de conta que esses não existiram.
Não chore algo que nunca deu certo de verdade.
Aprenda com suas  experiências, ruins ou não, elas te fizeram crescer.
Pare de sonhar com um tempo que não volta e que, se você não o poetizasse tanto, veria que nem foi tão bom assim.
Você esquece que aqueles foram momentos não apenas de felicidade.
Finge que o ruim disso tudo nem te fez tão mal.
Esquece as suas lágrimas e é como se elas não tivessem escorrido em torrentes pelo seu rosto.
Aí, você repete, até acreditar, que se você pudesse voltar atrás teria sido diferente, que se pudesse voltar, você não teria dado adeus ao que te fez feliz.
Aceite que não há como mudar. Tudo o que já foi, não será como antes, nem por um minuto.
E é melhor que seja assim.
A questão é, você não pode deixar isso te afetar desta maneira.
Deixar isso consumir seu sono e seus sonhos.
Consumir horas em que você poderia estar vivendo, não lamentando a falta do que já viveu.
Sim, você deve guardar o que foi bom do seu passado, mas sem fingir que ele é para sempre, a melhor parte da sua vida.
Aquele dia foi maravilhoso? Ótimo. Mas e aquele outro dia? O ruim. Seja sincero consigo mesmo.
Guardar do passado o que foi bom, inclui lembranças tristes. E, principalmente, aceitar que elas existiram.
Inclui as lições que recebeu e os tapas na cara que doeram.
Enfim, tudo que de certa forma te transformou no que você é hoje.
Do passado:
Chega uma hora em que você, simplesmente, precisa parar de sentir saudades.
Parar de reviver coisas que não vão voltar.
Hora, também, em que você precisa levantar a cabeça, escolher um caminho dentre todas as bifurcações e seguir por ele sem nem mesmo pensar em mudar de ideia.
Sem hesitar.
Porque esse vai ser o primeiro verso de uma poesia.
Dessa vez, uma de verdade.





quarta-feira, abril 27, 2011

...





"Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo para fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. (...) Uns escrevem grandes obras.
Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas."

Rita Apoena


segunda-feira, abril 25, 2011

First train home






Dedilhando Sweet Virginia em cordas gastas, ele espera, pacientemente.
A primeira vez que ele esteve sentado naqueles trilhos, 7 anos atrás, era só um rapaz de 18 anos buscando por aventura.
Lembranças.
Logo, o tremor dos trilhos sob seus pés o despertará dos longos devaneios.
O trem que o levará de volta se aproxima e ele embarcará decidido.
Quando ele cruzar aquelas portas, o cheiro de madeira velha lhe trará uma pontinha de quase hesitação.
Ele queria continuar em frente, ser o que sempre quis, é um viajante.
Mas, superestimou a solidão.
Era sempre assim, quando as pessoas e os lugares começavam a lhe parecer velhos e próximos demais, ele pegava sua mochila, seu violão e a rodovia mais próxima.
Não olhava para trás, não guardava fotos ou rostos, somente histórias. E isso o mantinha vivo.
Até agora.
Parece que aprendeu da maneira mais difícil que ele precisa de alguém, que a felicidade só é plena quando compartilhada. Por isso a decisão repentina. Por isso, pegará o primeiro trem de volta a sua pequena cidade natal.
Cidade da qual disse adeus, incitado pelo seu espírito de aventura. Cidade em que deixou todo mundo que o amava esperando por notícias que não vieram.
Dentro dele, o mesmo caminho que há tanto tempo percorreu, logo, ele verá passando como um borrão pela janela em que se recostar.
E então, os cheiros nostálgicos e aquelas doces lembranças que o levarão de volta à infância, o farão sorrir.
Ele anseia pelo que encontrará de volta. E receia não encontrar o que espera.
Nem tudo sobreviveu a tantos anos. Na verdade, poucas coisas restaram como ele se lembra.
E ele verá isso quando chegar.
Andará por ruas poeirentas e tropeçará em velhas memórias.
Na praça central, há muito abandonada, ele sentará naquele balanço azul que ele tanto adorava, agora enferrujado.
Com uma riso choroso entalado na garganta, se verá dividindo confetes com o seu cachorro cor-de-chocolate enquanto aquela mulher cheirosa e cheia de poderes o chama de filho e lhe diz que já era hora de ir para casa.
Depois se levantará e caminhará pelo lugar sentindo a garganta arder.
Reconhecerá o parquinho e as barraquinhas de cachorro-quente. Relembrará aquele velho vendedor que lhe dava balões no dia das crianças.
Verá pirralhos desconhecidos correndo pelo pátio da escola em que passou a maior parte da sua infância.
Pedirá o mesmo bolo verde a mesma mulher gorda que tantas vezes o atendera. Ela não o reconhecerá, seus óculos já não a ajudam como antes.
Depois, visitará a rua onde morou e baterá na porta da sua antiga casa. Abandonada, não haverá ninguém para atendê-lo.
Receoso, ele procurará por pistas e notícias que não serão encontradas.
Desesperado, ligará para números de telefones que já não existem.
A cidade dormirá e acordará sem notá-lo. Toda a indiferença que ele reservou ao lugar, agora ele sentirá na pele.
Dedicará sua vida em busca de um passado que não tem pretensões de se fazer presente.
Um passado que ele nunca reencontrará.
E quando ele se der conta disso, anos mais tarde - mas, felizmente, não tarde demais, ele juntará os cacos da sua vida e irá refazê-la.
Porque, na verdade, ter voltado não será de todo tão ruim. É lá que ele vai encontrá-la: a outra parte do seu coração.
A partir daí, esquecerá o passado. Voltará para a estrada, mas não como antigamente. Desta vez, se levará por completo, porque a levará junto.
Ela, o amor que ele anseia encontrar, mas ainda não sabe.
A pessoa que o completará, que compartilhará felicidades.
Que o fará prosseguir.
Terminarão o que ele começou.
Afinal, é isso que mantém de pé todo o seu edifício, tudo que ele é e o que ela se.
Sim, depois que entrar neste trem, ele sofrerá mais do que imagina.
Mais se ele soubesse dela, ele nunca iria sentir medo, como ele sentirá. Nenhuma dor seria incômoda demais e nenhuma vez ele pensaria em desistir da vida, como ele pensará.
Na verdade, se ele soubesse dela, cada minuto passando seria doce apesar de árduo. Pois, cada minuto é só um passo o aproximando, mais e mais, de seu fim feliz.





Plantando rosas no asfalto





Chamam de ilusão ou falta de experiência, ela diz que é Fé.
Fé em Deus e em si mesma.
Erra, sem medo. Acredita.
Está sempre em busca daqueles desejados momentos felizes.
E quando os encontra, não em raras ocasiões, aproveita-os ao máximo.
Ela sabe viver.
Supera tudo, dizem, assustadoramente rápido. Não tem vocação para sofrer.
Ela também sabe colorir.
Transforma aquele dia cinza degradê em chuva de confeti e algodão doce.
Canta no chuveiro, faz da sala sua pista de dança. Dança sem música.
Quando o sol a desperta, levanta radiante. Quando a noite cai, vai dormir sorrindo. 
Quando as lágrimas ameaçam, ela as engole.
Coloca um sorriso na cara e vai arranjar um motivo para ser feliz.
Segue em frente.
É só uma questão de escolha, ela sempre diz.
Acordar de manhã e simplesmente decidir: Posso fazer de hoje um ótimo dia.
Nem tudo são flores, é claro, ela tem os seus momentos.
Ela tropeça, cai e se machuca também.
Como o resto do mundo.
Mas ela levanta mais rápido que a maioria.
E só porque, ela tem um jeito ímpar de encarar a vida.
Um jeito todo dela.





Carta a uma amiga





Elas se conheceram por acaso, acredito. Se identificaram por pura sorte.
Riram dos nomes parecidos, coincidência ou não. Pegaram a mesma estrada, as mesmas vielas.
Seguiram o mesmo caminho pela melhor parte da vida delas.
Fizeram bagunças, maldades. Falaram bem daqueles, falaram mal daquelas.
Gargalharam. Compartilharam pipoca assistindo filme.
Sorriram juntas, emprestaram o ombro. Limparam lágrimas e esfregaram conselhos.
Foram mãe e irmã.
Fizeram e refizeram planinhos diabólicos para logo depois descartá-los e cairem na risada.
Deram voltas e mais voltas juntas. 
Se ajudaram. Se desentenderam e se afastaram algumas vezes.
Tiveram outros amigos, riram com outros risos.
Fizeram história. Contaram as delas.
Não tendo, obviamente, quem as substituisse, sempre sentiam saudades e se reaproximavam.
Mas aí, veio aquela estrada cheia de bifurcações e elas decidiram arriscar.
Mudaram de rumo, cada uma para um lado.
Nenhuma delas foi embora, nenhuma delas ficou para trás.
O mais importante, a amizade verdadeira, permanece.
Tudo porque, elas deram uma a outra parte do seu coração.
Parte, das suas melhores lembranças.


P.S.: Amo você minha melhor. (As Loucas)





quinta-feira, março 24, 2011

O dia em que a sorte mudou...






Ele esperou, mais do que acreditava ser capaz. Foi verdadeiro, intenso.
Ela não acreditava no amor. Desdenhava. Não acreditava em relacionamentos duradouros e não temia dizer isso.
Ele duvidou. Dizia pra si mesmo, todas as vezes que se beijavam ou riam juntos, que estava conseguindo fazê-la ver. Cada gentileza, cada gesto de carinho, dava a ele mais e mais esperança.
Ela tinha ele e não percebia. Ele não tinha nada e acreditava. Ela pensava em aproveitar os momentos ao lado dele. Ele pensava em construir sonhos junto com os dela.
Nem um dos dois fingiu. Eles foram reais durante todo o tempo. Sinceros.
Ele fez de tudo. Ela dizia que era demais, desnecessário. Ele não ouvia. Tentava.
Ela foi embora, como havia dito tantas vezes que faria, seguiu o seu caminho.
Sem remorsos.
O mundo dele acabou, ela era a sua primavera, o que aos olhos dele havia de mais lindo e agradável, tudo que ele sempre quisera ou acreditava querer mais que todo o resto.
Aparentemente, irrecuperável. Não saia mais de casa, não se divertia. Não vivia.
Mas, o tempo passou. Como sempre passa.
Ele se recompôs. Levantou-se. Foi tentar fazer algo que ele já não fazia desde que ela fora embora.
Viver.
E conseguiu, mudou de cidade, de emprego. Mudou o cabelo, a marca do cigarro. Mudou, como nunca fizera. Não por ela, que já não era mais o foco de sua vida.
Mudou por ele. Mudou o que deveria ter mudado desde sempre. Mudou, não o que sustentava todo o seu ser. Mudou o que lhe derrubava, o que lhe fazia mal nele mesmo. O excesso de auto-crítica. A falta de fé em si mesmo.
Mudou, simplesmente.
Botou um sorriso na cara, cheio de confiança.
Esqueceu o medo de encontrar outro alguém. O medo de se apaixonar. Saiu da defensiva. E foi fazer o que ele fazia melhor, independente de tudo.
Amar.
E deu certo, era chegada a hora do verão, estação que lhe pareceu mais agradável do que a anterior. Que lhe fez bem, lhe reconfortou. Que lhe sorria durante cada abraço. Durante cada beijo.
Estação que não duvidou, nem por um segundo do amor que havia entre eles e, mais do que tudo, que lhe mostrou, que o amor existe e pode, sim, ser compartilhado. Com falhas ou momentos ruins.
Mostrou que o brilho do sol pode ser mais admirável do que o cheiro das flores.
Estação que também teve um fim, mas que deixou com ele vestígios de lembranças melhores.
Agora ele sabe, desde aquela estação, que o amor se transforma, assim como as pessoas que amam. Ele muda, sem pedir permissão. Como as estações. E isso assusta.
Mas mudança nunca foi sinônimo de fim.
E finais nunca impediram recomeços.
Hoje ele diz,  que será um amante eterno, que amar lhe faz querer viver.
Independente do tipo de amor. Ou de todo o resto.
Sem medos ou hesitações.





Apenas uma outra nota:





Não tenho medo do futuro. Desejo-o.
O desconhecido me instiga. Um tiro ao alvo. Um giro de roleta.
E lá estou eu, correndo ao encontro de mudanças. Pequenas. Grandes. Impactantes ou não. Respiro-as.
Quero sempre mais. Quero ver acontecendo. Quero, principalmente, acontecer.
Guardo em memória só lições e boas lembranças.
E vou vivendo assim, do meu jeito e com minhas próprias regras.
Aproveitando o agora, mas pensando sempre no dia de amanhã.
Viver um dia de cada vez? Qual o propósito?
Posso viver dois, três. Viver semanas, meses ou anos em poucos minutos.
Vou e volto. Futuro. Presente.
Sigo em frente sem olhar para trás. Digo adeus sem perder a pose, sem gaguejar.
Não tenho medo do futuro. O desconhecido me instiga. Respiro mudança, inconstância, curiosidade.
Tenho necessidade de ver a roda girando. Viver vivendo.
Sem receios. Sempre com pressa.




domingo, março 06, 2011

Arrastando memórias pelo corredor





Ela pensa um milhão de vezes em um milhão de coisas. Revive tudo em alguns segundos. Anda pelo quarto sem parar, abraça um travesseiro, joga longe o outro, encosta na parede, desliza até o chão. Tem em mãos aquelas coisas cheias de lembranças e significados; ora os detesta, ora os ama. Nostálgico. Lembra de cada palavra dita, cada gesto, lembra dos cheiros, dos aspectos e até dos gostos. De qualquer momento.
E só então ela levanta, decidida. Arrasta as memórias pelo corredor. Guarda tudo em uma caixinha. Um lugar ousado, a esconde de si mesma. Um sorriso se abre em seus lábios, reflete em seus olhos. Ela sabe que é hora de deixar tudo para trás. Coloca a música que tanto gosta para tocar, dança sozinha até anoitecer. Um sentimento, algo estranho, engraçado. Ri sozinha, mas não demora muito para entender o que é.
Alívio, pensa.
Há quanto tempo não sentia isso? Os últimos dias haviam passado pesarosos para ela, mas haviam passado e era só isso que lhe importava. No outro dia, enquanto se penteava, sabia que há muito não se sentia daquele jeito, feliz. Há muito as manhãs, não tinham mais aquele gostinho de Natal, como sempre tivera. Há muito, ela não era ela.E sabia ser a única culpada. Isso a estava consumindo tanto. Tudo havia convergido àquele ponto, porque ela deixara. Afinal, as escolhas foram sempre dela.
Enfim. Passado.
Agora, só precisa de si mesma, porque, afinal, ser quem é lhe reconforta. Ser por ela lhe reconforta. Tomou as rédeas da própria vida. E faz acontecer.
Um dia de cada vez, sem pré-ocupações. Ela é só agora e nada mais.O que virá não lhe assusta. E, o que foi, ela pretende deixar enterrado em algum lugar daquele corredor. Diz que daqueles dias ruins, não sente saudades, no entanto, aprendeu muito, não teme mais o escuro. Faz tudo o que quer, o que lhe faz bem. Diz um milhão de coisas, para um milhão de curiosos. Só a veem gargalhando e se divertindo. Lhe fazem um milhão de perguntas, que ela não responde.
Só o que sabem, é que ela não vai mudar, não dessa vez. 




quarta-feira, março 02, 2011

Carrying on.





Depois que eu aceitei ter só o que me convém, o que é o melhor para mim. Depois que eu deixei o que não é, se acabar ou ir embora. As coisas tornaram-se mais fáceis.
    Mais leves.
Quando nada parecia certo, me dei conta de que já estava na hora de mudar, seguir em frente. Tentar esquecer. Nesse pouco tempo, entendi que algumas coisas não dão certo, mas que ninguém morre por isso. Enquanto a gente cresce, a gente erra, leva na cara, se decepciona. São momentos ruins e assim como os bons momentos...
    Uma hora eles acabam.
Ninguém escolhe passar por isso. Porém, é de cada um, a escolha de como lidar com isso. Eu escolhi me sentir bem, apesar de tudo. Guardar só o que foi bom e verdadeiro.
    Ou o que eu penso que tenha sido.
Acredito que, independente de qualquer coisa, não há motivos para sofrer ou, menos ainda, ficar imaginando: "E se... Como seria?". Reviver o passado, ficar lembrando, nunca levou a nada. E, quer saber, o que fiz, faria tudo de novo. Porque isso só me fez crescer, aprender.
    E mudar a mim mesma.
Decidi aproveitar o que tenho em mãos. Todos os dias e a cada minuto. Fazer do agora algo bem melhor do que o antes. Parar de esperar muito das pessoas, para que não hajam surpresas. Decidi arregaçar as mangas e ir atrás dos meus sonhos, ao invés de pegar carona nos dos outros.
    Fazer por mim, o que me faz melhor.




segunda-feira, fevereiro 28, 2011

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Incompatibilidades




Ele vive os meios-termos. Ela, vive nos extremos. Ele quer o fácil. Ela quer o mundo. Ela se joga quando acredita. Ele hesita, sempre com medo. Eles têm planos, muito diferentes.
Ele pensa no agora, mas vive em cima do muro. Ela, pensa no futuro e sabe bem o que quer.
Ele tinha dúvidas desde o começo. Ela, nunca gostou de indecisão.
Ele não percebeu, deixou estar. Ela foi criando coragem, cada vez mais.
Ela vivia dizendo "Ainda vou embora". Ele duvidava, todas as vezes. Não conhecia mesmo aquela garota, já estava decidida desde a primeira vez. 
Ela havia cansado, não gaguejou no adeus. Ele percebeu, já era tarde.
Cada um para o seu lado, foi como acabou.