quinta-feira, dezembro 22, 2011

"E aqueles que foram vistos dançando...



E para os desafortunados, as sete contas do seu arco íris soam como ofensas. E o jeito curioso de ela dançar é afronta. Sua felicidade, agravo. E - por maldade ou ingenuidade - uma palavra solta, um duvidar ligeiro, faz quase seu sorriso virar embaraço. Ah, mas se o velho da venda fosse lhe dar um de seus sábios conselhos, talvez ele dissesse "deixe, que eles são mesmo uns bons tolos; perderias tu em paz de espírito por pura comoção?" E então o rosado quente que acanha a pele não se sobreporia ao seu real contentar. "Bobagem, deixe a distração lhe envolver os olhos e fique com o que lhe agrada por recordação, mal sabem eles o que vos passa em mente e o que eles veem nada mais é, senão feição." Aquietada a alma, o sorriso a triunfar,  olharia com pesar a curiosice mal empregada do mundo e, bem no fim, acabaria por conformar-se. Normal, fraqueza humana. Embora sua suscetibilidade gentil, é verdade, a fizesse pensar: uma pena, realmente uma pena. Ora, tantas histórias próprias esperando ser deitadas em um papel branco - novo como o dia presente - ou pronunciadas de lábios em lábios junto com o vento da tardinha. Tantos feitos singulares, mesmo que nem grandiosos, simples feitos que valeriam ser compartilhados. Ou se não há que valha; apenas cala-se. Perde-se oportunidade de encobrir a pequenez de espírito com o silêncio oportuno. Mas vá lá... Nem todos são velhos de venda sábios, honra para poucos; nem todos sabem que o tempo é curto e não nos cabe gastá-lo assim, vadiando, dissertando leviano modo... sobre meras tolices de vozes de outrem. Porque na verdade mesmo, só o que ela quer é contemplar as cores várias de seu arco-celeste e o gotejar macio da chuva que o precede, sem perturbações desnecessárias por seu sorriso bobo. Porque se ela tem motivos tão simplistas para ser feliz. Dos daltônicos ou cegos de alma, admite ter pena, mas mais do que isso, tem por eles respeito. E desses, meu caro, respeito pela sua maneira ímpar de ver o mundo é certamente o que ela mais anseia. Talvez, até porque, isso seja a única coisa que desses julga sensato ansiar. 


quarta-feira, dezembro 07, 2011

Sobre clichês, olhares e garrafas de Whisky





E era só uma saída rotineira de fim de tarde... E então, cinco segundos! Cinco malditos segundos que resultariam em uma garrafa de Whisky barato por companhia e alguns sorrisos esboçados embaraçosamente na madrugada. Na manhã seguinte ele se sentiria patético, é verdade, mas a manhã seguinte era dali a muito tempo. E, por enquanto, uma chamada daquele breve momento não cessava em seus delírios tolos. Soava tão clichê, tão bobo, mas isso não fazia ser menos perturbante. Aquele olhar tão curiosamente intenso. Não era como se ele o reconhecesse, não era nada nem mesmo próximo a isso. Era algo como... um tal entendimento entre almas, como se ele a tivesse convidado para sentar à mesa de uma lanchonete qualquer e eles tivessem acabado por virar a noite compartilhando histórias, memórias e sorrisos com uma música brega saindo das caixinhas de som empoeiradas e um cappuccino fumegante para acompanhar a conversa. Mas nada disso aconteceu, nenhuma palavra foi ouvida, quem dirá uma canção para chamar de "nossa", o que havia eram as buzinas habituais e e as vozes desconhecidas passando ligeiras. E, mesmo assim, naqueles segundos amanteigados de anoitecer tardio, era como se ele pudesse compreender cada gesto que porventura viesse dela e cada palavra que poderia ter sido pronunciada. E ele compreendeu, compreendeu suas maneiras, seu silêncio e até o motivo de ela usar aquele corte anos 80. Mas por muito tempo ele não saberia disso. É, dessa vez a sensibilidade poética dele havia exagerado na dose e logo ele se julgaria um estúpido por acreditar em desígnios. Ah, mas o humor tranquilo do tempo vem em boa hora... E quem era ele para duvidar, porque muitos anos depois, aqueles dois olhares voltariam a se cruzar e em meio a uma multidão de rostos indiferentes e olhares ignoráveis; aquela lembrança borrada de um passeio rotineiro faria com que outros tantos segundos, dessa vez, se fizessem décadas.