quarta-feira, dezembro 07, 2011

Sobre clichês, olhares e garrafas de Whisky





E era só uma saída rotineira de fim de tarde... E então, cinco segundos! Cinco malditos segundos que resultariam em uma garrafa de Whisky barato por companhia e alguns sorrisos esboçados embaraçosamente na madrugada. Na manhã seguinte ele se sentiria patético, é verdade, mas a manhã seguinte era dali a muito tempo. E, por enquanto, uma chamada daquele breve momento não cessava em seus delírios tolos. Soava tão clichê, tão bobo, mas isso não fazia ser menos perturbante. Aquele olhar tão curiosamente intenso. Não era como se ele o reconhecesse, não era nada nem mesmo próximo a isso. Era algo como... um tal entendimento entre almas, como se ele a tivesse convidado para sentar à mesa de uma lanchonete qualquer e eles tivessem acabado por virar a noite compartilhando histórias, memórias e sorrisos com uma música brega saindo das caixinhas de som empoeiradas e um cappuccino fumegante para acompanhar a conversa. Mas nada disso aconteceu, nenhuma palavra foi ouvida, quem dirá uma canção para chamar de "nossa", o que havia eram as buzinas habituais e e as vozes desconhecidas passando ligeiras. E, mesmo assim, naqueles segundos amanteigados de anoitecer tardio, era como se ele pudesse compreender cada gesto que porventura viesse dela e cada palavra que poderia ter sido pronunciada. E ele compreendeu, compreendeu suas maneiras, seu silêncio e até o motivo de ela usar aquele corte anos 80. Mas por muito tempo ele não saberia disso. É, dessa vez a sensibilidade poética dele havia exagerado na dose e logo ele se julgaria um estúpido por acreditar em desígnios. Ah, mas o humor tranquilo do tempo vem em boa hora... E quem era ele para duvidar, porque muitos anos depois, aqueles dois olhares voltariam a se cruzar e em meio a uma multidão de rostos indiferentes e olhares ignoráveis; aquela lembrança borrada de um passeio rotineiro faria com que outros tantos segundos, dessa vez, se fizessem décadas. 



3 comentários:

  1. Minha nossa, enchi os olhos de lágrimas, parabéns mais uma vez Angélica, escreveste isto com muita sensibilidade. Incrível como os reencontros, mesmo depois de muito tempo, podem ter sentidos tão distintos. Quem já vivenciou isso sem dúvida vai se emocionar com teu texto. Muito bom mesmo!

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  2. É por essas e por outras que não tomo whisky barato.
    :)

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