quarta-feira, abril 11, 2012

Desse Solstício Lento


        Eu vejo a fumaça como saindo dos meus dedos, o cigarro já se apaga. A escada de incêndio é meu refúgio essa noite e tem sido há alguns invernos gélidos como o atual. Coloco a bituca no parapeito da janela, para aumentar o montinho... que é de cinzas como essa época do ano; desvanecendo melancólica, bucólica. Agrada-me. Agrava-me. Porque eu espero, eu tenho esperado pela primavera a cada dia desse inverno e durante todos os últimos anos. Eu espero, resignada. Simples.
        E como dói ver o outono chegar, tão lindo, tão suave. É o meu preferido, mas dói... e talvez me agrade por ser assim. Porque ao menos ele me faz sentir, sentir, sentir não se sabe o quê. Ele me belisca, me rodeia, me acorda e diz pra eu aproveitar que o inverno já chega. Então eu me ponho viva no outono, eu o saboreio. Urgentemente! Até tiro um tempo para assistir ao pôr-do-sol, porque é a sua época mais linda, mais saudosa.
        Mas é por aquele motivo que o outono dói: porque o inverno já chega e traz consigo a espera. Aí não há nada além dela. Eu só espero. Espero a primavera dar o ar de suas graças, com seus sorrisos de flor e o cheiro agridoce do ar. Do amar. Do sonhar. Na primavera é quando eu sonho, porque sonhar combina com o canto dos pássaros pela manhã e os jasmins doces que crescem por aí. Então vem o verão e eu só sou, porque o verão não me é nada. Não o admiro, digo com sinceridade. O verão me incomoda, descarto-o (se pudesse).
        Embora não haja nada pior do que o inverno, porque eu o amo e o odeio. E isso corrói. É a época dos crescimentos, dizem: quando o frio toma conta, aprende-se que no pior das vezes, esquenta-se com papelão velho (sonho na primavera, que no inverno tenha ao menos papelão velho). Mas aí, ai de mim, tem o  outono; o brincalhão favorito que alaranja as folhas, que bom gosto o dele! Então eu esqueço de imaginar e desejar, esqueço de esperar, esqueço de somente ser e me largo a viver. Viver. Vim ver. Vejo e é com olhos de criança: poéticos. Mas issó só acontece no outono, fazer poesia fácil da simplicidade. Porque ele me inspira - como a lua cheia se esforça por fazer. Tenho essa paixão, o outono. E no inverno, um eterno esperar.
        Esperar por jasmins e damas-da-noite. Esperar por bem-te-vis e música boa pra acordar. Esperar por café com pão e manteiga e pantufa quente pra levantar. Esperar, esperança. Esperar na escada de incêndio cinzenta de cerração do fim de tarde, cinzenta de cigarros esgotados de esperar. Esperar por aquela dança tímida ao som de Little Red Rooster que não quer mais se fazer presente. Esperar pelo presente que o carteiro trará. Esperar, esperança. Esperar que o chuveiro aguente o banho pelando e então você não tenha que aguentar. Esperar pelo menino, pela menina da rua de cima que era seu par na brincadeira de adivinha àqueles anos incertos. Esperar pelo que já foi e não vem ou esperar pelo que nunca será. Esperar, esperança. Espera-se até mesmo, que amanhã seja feriado - porque a coberta nessa época é boa. Espera-se para que se possa respirar. Espera-se para não morrer; hipotérmico, desenxabido e apático. Espera-se ser assim feliz, pelo menos um pouquinho por dia. Então se é inverno, eu espero. Tenho esperança. Porque, de qualquer forma, não haveria como ser diferente; quando as coisas tornam-se geladas, cortantes, esperar - é só o que me resta.


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