Sem desejos homeopáticos, por favor, porque nada é muito
quando há paixão. Sim, admiro o olhar que tem paixão! Ah, faça-me o favor! Sem
sentimentos letárgicos, pois me dão náuseas. Gosto de quem queima! Assim,
serenamente... E quem dosa as palavras com certo mistério, mas entrega o toque
até o tremor! Gosto de quem se dosa, gosto de quem se entrega. Tenho afeição
pelo caos e excentricidade das almas. E também pelo farfalhar das folhas de
outono e da ventania. Gosto de poesia, silêncio, boa música e gentileza. E da
pessoa que tem leveza e densidade em ser. É isso,
gosto da contradição. Mas, sem falsos prazeres, por favor. Acho-os medíocres,
não me satisfazem. Adoece-me esses sorrisos forjados e essas amizades cuspidas.
Estranha-me a frieza dos abraços e os amores de passagem. Que seja intenso ou
não seja. Gosto das bebidas fortes, dos bons Whiskys e do café bem preto. Gosto
da torrada bem torrada, do frio de julho e da sinceridade na cara. Gosto de
quem é sem pretensões. Gosto do velho
humoroso e de ver o tempo passar. Gosto de celebrar o tempo e gosto de vinhos. Gosto de quem é cortês. A esses brindemos! E não entendo. Não entendo quem tem essa
necessidade de falar quando não há assunto e de batucar os dedos na mesa quando
a quietude paira. O bom mesmo são as conversas gostosas regadas a café com
creme, divagações e petulâncias de quem lê livros eruditas. Embora não dispense
piadas de pavê e simplicidade. Bom mesmo são os risos debaixo de chuva e as
danças bobas de quem não sabe dançar. Embora me deleite com a maestria de um
passo. É a contradição do muito e do pouco, onde o pouco é suficiente para
alegrar e o muito é bom como reminiscência. Ou o contrário. E também essas frescuras de viver
me atraem; essa felicidade de ignorar as tristezas quando se é possível. Gosto
de quem é lunar, porque não me cansa. Gosto de quem é lunático, só por
identificação. Então, sem meios-termos dosados, sem mornidões desgostosas. Isso
me aborrece: seres medianos. Gosto daquele que tem um "eu" tão grande, que chega
mesmo a sentir-se desconfortável por ter de aguentar-se dentro de si. E daquele
que é tão pequeno, por não precisar de nada mais do que a "si" mesmo para ser
feliz. Gosto, assim, dos que são intensos tanto quanto gosto dos que são bem
leves. Apenas, por favor, não me venha com tepidezes. Ou se é ou se é. Ser-se mais ou menos se deve, certamente, à
tolice. Não sejas tolo! Ou o sejas, se quiseres assim, pois não me preocupa. Não
me preocupa o que me é alheio, o que me é distante. Preocupa-me o que envolve a mim, o que belisca a minha carne, o que eu ponho em
minha poesia. A isso, talvez, dariam o nome de egoísmo; eu dou o de leveza. Quanto
ao resto, o resto é só distração. Preocupa-me o que
amo, as coisas que amo, as pessoas que amo e o que o tempo fará
delas... e de mim. O resto, ah, o resto é só ilusão ou, quando muito, mera
lembrança. No mais, desculpe-me se oscilo pesadamente em busca de extremos e bem depressa me desvencilho do centro, como pêndulo de marfim. Desculpe-me esse vaivém urgente, é que desejar tão forte me é intrínseco. Ser-se o que se é, deve-se,
certamente, ao que se pode ser. Um pêndulo! Que espirituoso...
"Estranha-me a frieza dos abraços e os amores de passagem. Que seja intenso ou não seja. Gosto das bebidas fortes, dos bons Whiskys e do café bem preto. Gosto da torrada bem torrada, do frio de julho e da sinceridade na cara. Gosto de quem é sem pretensões. Gosto do velho humoroso e de ver o tempo passar. Gosto de celebrar o tempo e gosto de vinhos."
ResponderExcluirMagnífico Angélica!!
Obrigada, Day, de verdade! É muito bom "ouvir" isso!
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