quinta-feira, maio 17, 2012

Eu-pêndulo

Sem desejos homeopáticos, por favor, porque nada é muito quando há paixão. Sim, admiro o olhar que tem paixão! Ah, faça-me o favor! Sem sentimentos letárgicos, pois me dão náuseas. Gosto de quem queima! Assim, serenamente... E quem dosa as palavras com certo mistério, mas entrega o toque até o tremor! Gosto de quem se dosa, gosto de quem se entrega. Tenho afeição pelo caos e excentricidade das almas. E também pelo farfalhar das folhas de outono e da ventania. Gosto de poesia, silêncio, boa música e gentileza. E da pessoa que tem leveza e densidade em ser. É isso, gosto da contradição. Mas, sem falsos prazeres, por favor. Acho-os medíocres, não me satisfazem. Adoece-me esses sorrisos forjados e essas amizades cuspidas. Estranha-me a frieza dos abraços e os amores de passagem. Que seja intenso ou não seja. Gosto das bebidas fortes, dos bons Whiskys e do café bem preto. Gosto da torrada bem torrada, do frio de julho e da sinceridade na cara. Gosto de quem é sem pretensões. Gosto do velho humoroso e de ver o tempo passar. Gosto de celebrar o tempo e gosto de vinhos. Gosto de quem é cortês. A esses brindemos! E não entendo. Não entendo quem tem essa necessidade de falar quando não há assunto e de batucar os dedos na mesa quando a quietude paira. O bom mesmo são as conversas gostosas regadas a café com creme, divagações e petulâncias de quem lê livros eruditas. Embora não dispense piadas de pavê e simplicidade. Bom mesmo são os risos debaixo de chuva e as danças bobas de quem não sabe dançar. Embora me deleite com a maestria de um passo. É a contradição do muito e do pouco, onde o pouco é suficiente para alegrar e o muito é bom como reminiscência. Ou o contrário. E também essas frescuras de viver me atraem; essa felicidade de ignorar as tristezas quando se é possível. Gosto de quem é lunar, porque não me cansa. Gosto de quem é lunático, só por identificação. Então, sem meios-termos dosados, sem mornidões desgostosas. Isso me aborrece: seres medianos. Gosto daquele que tem um "eu" tão grande, que chega mesmo a sentir-se desconfortável por ter de aguentar-se dentro de si. E daquele que é tão pequeno, por não precisar de nada mais do que a "si" mesmo para ser feliz. Gosto, assim, dos que são intensos tanto quanto gosto dos que são bem leves. Apenas, por favor, não me venha com tepidezes. Ou se é ou se é. Ser-se mais ou menos se deve, certamente, à tolice. Não sejas tolo! Ou o sejas, se quiseres assim, pois não me preocupa. Não me preocupa o que me é alheio, o que me é distante. Preocupa-me o que envolve a mim, o que belisca a minha carne, o que eu ponho em minha poesia. A isso, talvez, dariam o nome de egoísmo; eu dou o de leveza. Quanto ao resto, o resto é só distração. Preocupa-me o que amo, as coisas que amo, as pessoas que amo e o que o tempo fará delas... e de mim. O resto, ah, o resto é só ilusão ou, quando muito, mera lembrança. No mais, desculpe-me se oscilo pesadamente em busca de extremos e bem depressa me desvencilho do centro, como pêndulo de marfim. Desculpe-me esse vaivém urgente, é que desejar tão forte me é intrínseco. Ser-se o que se é, deve-se, certamente, ao que se pode ser. Um pêndulo! Que espirituoso...


2 comentários:

  1. "Estranha-me a frieza dos abraços e os amores de passagem. Que seja intenso ou não seja. Gosto das bebidas fortes, dos bons Whiskys e do café bem preto. Gosto da torrada bem torrada, do frio de julho e da sinceridade na cara. Gosto de quem é sem pretensões. Gosto do velho humoroso e de ver o tempo passar. Gosto de celebrar o tempo e gosto de vinhos."
    Magnífico Angélica!!

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