segunda-feira, abril 25, 2011

First train home






Dedilhando Sweet Virginia em cordas gastas, ele espera, pacientemente.
A primeira vez que ele esteve sentado naqueles trilhos, 7 anos atrás, era só um rapaz de 18 anos buscando por aventura.
Lembranças.
Logo, o tremor dos trilhos sob seus pés o despertará dos longos devaneios.
O trem que o levará de volta se aproxima e ele embarcará decidido.
Quando ele cruzar aquelas portas, o cheiro de madeira velha lhe trará uma pontinha de quase hesitação.
Ele queria continuar em frente, ser o que sempre quis, é um viajante.
Mas, superestimou a solidão.
Era sempre assim, quando as pessoas e os lugares começavam a lhe parecer velhos e próximos demais, ele pegava sua mochila, seu violão e a rodovia mais próxima.
Não olhava para trás, não guardava fotos ou rostos, somente histórias. E isso o mantinha vivo.
Até agora.
Parece que aprendeu da maneira mais difícil que ele precisa de alguém, que a felicidade só é plena quando compartilhada. Por isso a decisão repentina. Por isso, pegará o primeiro trem de volta a sua pequena cidade natal.
Cidade da qual disse adeus, incitado pelo seu espírito de aventura. Cidade em que deixou todo mundo que o amava esperando por notícias que não vieram.
Dentro dele, o mesmo caminho que há tanto tempo percorreu, logo, ele verá passando como um borrão pela janela em que se recostar.
E então, os cheiros nostálgicos e aquelas doces lembranças que o levarão de volta à infância, o farão sorrir.
Ele anseia pelo que encontrará de volta. E receia não encontrar o que espera.
Nem tudo sobreviveu a tantos anos. Na verdade, poucas coisas restaram como ele se lembra.
E ele verá isso quando chegar.
Andará por ruas poeirentas e tropeçará em velhas memórias.
Na praça central, há muito abandonada, ele sentará naquele balanço azul que ele tanto adorava, agora enferrujado.
Com uma riso choroso entalado na garganta, se verá dividindo confetes com o seu cachorro cor-de-chocolate enquanto aquela mulher cheirosa e cheia de poderes o chama de filho e lhe diz que já era hora de ir para casa.
Depois se levantará e caminhará pelo lugar sentindo a garganta arder.
Reconhecerá o parquinho e as barraquinhas de cachorro-quente. Relembrará aquele velho vendedor que lhe dava balões no dia das crianças.
Verá pirralhos desconhecidos correndo pelo pátio da escola em que passou a maior parte da sua infância.
Pedirá o mesmo bolo verde a mesma mulher gorda que tantas vezes o atendera. Ela não o reconhecerá, seus óculos já não a ajudam como antes.
Depois, visitará a rua onde morou e baterá na porta da sua antiga casa. Abandonada, não haverá ninguém para atendê-lo.
Receoso, ele procurará por pistas e notícias que não serão encontradas.
Desesperado, ligará para números de telefones que já não existem.
A cidade dormirá e acordará sem notá-lo. Toda a indiferença que ele reservou ao lugar, agora ele sentirá na pele.
Dedicará sua vida em busca de um passado que não tem pretensões de se fazer presente.
Um passado que ele nunca reencontrará.
E quando ele se der conta disso, anos mais tarde - mas, felizmente, não tarde demais, ele juntará os cacos da sua vida e irá refazê-la.
Porque, na verdade, ter voltado não será de todo tão ruim. É lá que ele vai encontrá-la: a outra parte do seu coração.
A partir daí, esquecerá o passado. Voltará para a estrada, mas não como antigamente. Desta vez, se levará por completo, porque a levará junto.
Ela, o amor que ele anseia encontrar, mas ainda não sabe.
A pessoa que o completará, que compartilhará felicidades.
Que o fará prosseguir.
Terminarão o que ele começou.
Afinal, é isso que mantém de pé todo o seu edifício, tudo que ele é e o que ela se.
Sim, depois que entrar neste trem, ele sofrerá mais do que imagina.
Mais se ele soubesse dela, ele nunca iria sentir medo, como ele sentirá. Nenhuma dor seria incômoda demais e nenhuma vez ele pensaria em desistir da vida, como ele pensará.
Na verdade, se ele soubesse dela, cada minuto passando seria doce apesar de árduo. Pois, cada minuto é só um passo o aproximando, mais e mais, de seu fim feliz.





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