terça-feira, fevereiro 22, 2011

Quando foi que isso tudo começou a desmoronar?




Acho que foi naquele domingo à noite, sentados na varanda. O lugar cheirava a outono. Nós ouvíamos a chuva cair enquanto você tocava aquele meu violão velho e desgastado. Falávamos sobre a gente e contávamos nossas histórias. Não percebíamos, porém, que isso aos poucos nos afastava, nos tornava estranhos para o outro. Aquele garoto, que eu acreditava amar tanto, falando de antigas relações e aquela garota, que ria das suas bobagens, tentando esconder o ciúme. Quem eram eles?
Naquela noite havíamos ignorado o limite entre as coisas que devem ou não ser ditas. Nos esquecemos que alguns pensamentos devem ser calados, trancados a sete chaves. Éramos demasiadamente sinceros para isso. E, no entanto, suficientemente orgulhosos para não admitir o necessário.
E, apesar de todas as palavras ditas, agora sinto-me à deriva.
 Porque, têm certas coisas sobre nós que ainda não entendo.
Têm certas coisas sobre nós que me fazem falta.
O que aconteceu com as promessas e os planos pro futuro?
Onde foi que nós deixamos de ser nós para ser um e outro.
Àquela mesma hora, enquanto você lia meus pequenos gestos e sorrisos. Enquanto eu tentava sustentar seu olhar, minha mente era só circunstâncias, só receios. Os minutos passaram com pesar depois que você foi embora. Passaram incertos, titubeando. Eu tinha mais do que medo em mente, eu tinha mais do que momentos ruins para analisar. Tinha o que foi bom, o que valeu a pena. Tinha o que foi certo, os desejos.
Aqueles segundos passageiros de certeza.
No entanto, no outro dia, quando você apareceu no fim da tarde. Nosso tempo já tinha acabado. Já era tarde demais. Eu devia ter notado. Nos olhamos com arrependimento e dor. Mas, não fizemos nada, deixei passar. Deixei você se despedir para sempre. Dar adeus. E quando me lembro daquele fim de dia, daqueles poucos momentos juntos, aquele seu sorriso triste me incomoda, me invade. A imagem de você correndo sobre a chuva se repete. E, então, só o que sinto é o gosto do nosso último beijo.
Gosto de dúvida.




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